A doença COVID-19, causada pelo coronavírus-2, foi relatada e confirmada pela primeira vez em Wuhan, China, em dezembro de 2019 e a partir de então, se espalhou rapidamente para vários países, tornando-se uma pandemia global, afetando até o momento mais de 4 milhões e 180 mil de pessoas em todo o mundo e causando mais de 285mil mortes. Toda a atenção da população mundial está orientada para as formas de prevenção e possíveis tratamentos da doença, sendo um tema atual de extrema relevância. Nesse sentido, baseado nos relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e na perspectiva da Odontologia, buscamos uma reflexão sobre o possível papel da saliva para investigação do novo coronavírus e perspectivas futuras em ciência.

 

 A COVID-19 é a terceira infecção por coronavírus animal a afetar seres humanos. A alta tendência patogênica do vírus, que afeta os seres humanos, foi considerada apenas com o surgimento de duas epidemias com risco de vida, a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2002 e 2003 na China e aproximadamente dez anos depois a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) nos países do Oriente Médio. Ambos o coronavírus SARS (SARS-CoV) e o coronavírus MERS (MERS-CoV) são considerados originários de morcegos. A sequência genética de SARS-CoV-2 demonstrou ser 79,6% idêntica à de SARS-CoV e 96% idêntica a um coronavírus de morcego. Apesar da natureza zoonótica inicial da COVID-19, agora a disseminação da doença tem se dado pelo contato de humano para humano. Com as características clínicas típicas de febre, tosse seca, mal-estar, dispneia e pneumonia, outros sintomas raramente apresentados incluem produção de úlcera, congestão nasal, dor de cabeça, diarréia, náusea e vômito.  A transmissão também pode ocorrer no início do processo da doença, mesmo antes dos sintomas, destacando a transmissão potencial de pacientes assintomáticos ou levemente sintomáticos. 

 

A questão principal para traçar estratégias para controlar a pandemia depende de testar o maior número possível de indivíduos, incluindo os assintomáticos, que respondem por aproximadamente 79% da propagação do contágio. A coleta tradicional de amostras do trato respiratório superior, com uso de swabs, apresenta uma série de desvantagens em relação ao tempo de coleta, exposição da equipe de saúde, desconforto do paciente, uso de instrumentos específicos e, principalmente, dificuldade ou impossibilidade de autocoleta, sendo um dos fatores que limitam a expansão dos testes. Outra alternativa, são os exames de sangue, com testagem de anticorpos para o coronavírus, que detectam não somente a presença dos anticorpos no sangue, mas também indicam se a infecção é recente ou não (IgM/IgG). 

 

A saliva tem se mostrado uma alternativa interessante para a detecção de vírus, sendo um fluido com potencial uso diagnóstico, inclusive para vírus respiratórios. O uso da saliva, após a coleta adequada da saliva e o manuseio de procedimentos de alta qualidade, apresenta inúmeras vantagens, como menos invasividade, facilidade de coleta, possibilidade de auto-coleta, menor exposição dos profissionais de saúde, menor tempo de execução, sem necessidade de instrumentos específicos. 

 

A saliva também pode ser relevante pelo fato de que nessas amostras pode ser investigado o vírus em status replicativo ativo, que provavelmente é a forma transmissível. Além disso, até o momento, desde o início da pandemia de COVID-19, a taxa de pessoas sintomáticas infectadas por vírus em todo o mundo teve um aumento exponencial nas últimas semanas. No entanto, o papel da característica molecular viral e as possíveis alterações genéticas envolvidas nessa alta transmissão ainda não estão bem claras. Assim, amostras de saliva registradas de diferentes pacientes em momentos diferentes podem ser relevantes para investigar alterações genéticas moleculares da forma viral transmissível que podem ser de interesse para o desenvolvimento de vacina e desenvolvimento antiviral terapêutico. 

 

Um estudo recente que investigou a detecção de SARSCoV-2 em amostras seriais de saliva mostrou positividade em 20 de 23 dos indivíduos diagnosticados com base em coletas por swabs, por ensaio quantitativo de PCR com transcriptase reversa, mostrando que a saliva tem um excelente potencial diagnóstico para COVID-19, além de permitir o acompanhamento molecular desses pacientes. Estudos preliminares da Universidade de Yale também relatam resultados promissores de testes rápidos de saliva para a detecção do coronavírus. Embora estudos maiores sejam necessários para determinar o poder preditivo de amostras salivares, há uma tendência científica em se estabelecer um diagnóstico acurado com a utilização de saliva. 

 

REFERÊNCIAS 

  1. Balasopoulou A, Κokkinos P, Pagoulatos D, Plotas P, Makri OE, Georgakopoulos CD, et al. Symposium Recent advances and challenges in the management of retinoblastoma Globe  saving Treatments. BMC Ophthalmol. 2017;17(1):1. 
  1. Braz-Silva PH, Pallos D, Giannecchini S, To KK-W. SARS-CoV-2: What Can Saliva Tell Us? Oral Dis. 2020;0–2. 
  1. Vinayachandran D. ScienceDirect Salivary diagnostics in COVID-19 : Future research implications. J Dent Sci. Association for Dental Sciences of the Republic of China; 2020;(xxxx):6–8.