Autor(es): Mayara Barbosa Viandelli Mundim, Rejane Faria Ribeiro-Rotta (Orientadora)
Novas tecnologias têm surgido a fim de otimizar o diagnóstico precoce do câncer de boca, dentre elas a criação de programas e políticas públicas voltadas para esta população de risco e a utilização de técnicas e equipamentos coadjuvantes à inspeção visual da mucosa bucal, como os de autofluorescência. Porém, faz-se necessário a busca por evidências que suportem a sua utilização na rotina clínica, em particular nos serviços públicos de atenção à saúde. O objetivo deste estudo foi avaliar tecnologias para a detecção precoce do câncer de boca no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. Foi realizada a estruturação e implantação de um programa de matriciamento e rastreamento do câncer de boca no estado de Goiás baseando-se em ações permanentes de promoção e prevenção da saúde no grupo de risco para o câncer bucal. As estratégias selecionadas para o programa foram apoio matricial e rastreamento organizado e oportunístico da população de risco. O programa também proporcionou treinamento permanente para os profissionais de saúde que trabalham na rede pública de saúde. Uma análise de custo do referido Programa foi desenvolvida, utilizando-se de metodologia de microcusteio, dados primários coletados na implantação do programa e dados secundários. Foram considerados custos com recursos humanos, infra-estrutura e materiais. Uma análise da acurácia do equipamento de autofluorescência Identafiâ comparada à inspeção visual para a suspeita de malignidade (LM) ou potencial malignidade (DPM) de lesões bucais, também fez parte desse estudo. Lesões suspeitas identificadas na implantação piloto foram submetidas à inspeção visual sob luz branca e auxiliada por luz multiespectral. O exame histopatológico foi utilizado como padrão-ouro para a avaliação de acurácia. A implantação do referido programa ocorreu no período de 2013-2015, tendo sido capacitados 56 cirurgiões-dentistas. O rastreamento organizado culminou no atendimento de 277 indivíduos com 122 lesões orais, sendo quatro destas confirmadas como DPM e um caso de LM. O rastreamento oportunístico identificou 331 indivíduos pertencentes ao grupo de risco, sendo observadas 70 lesões, das quais 11 apresentavam suspeita de DPM/LM, e um caso confirmado como carcinoma espinocelular. Foram referenciados 134 indivíduos ao centro matriciador e 55 para o centro de referência regional. O custo de implementação do programa foi estimado em R$ 123.879,13. A infra-estrutura foi o item que representou o maior percentual de custo (73%). Quanto à análise de autofluorescência, 36 lesões foram examinadas, sendo que dessas, três foram identificadas apenas pelo uso do Identafiâ. O equipamento apresentou uma especificidade de 100% e sensibilidade de 33,3%, enquanto a inspeção visual apresentou sensibilidade e especificidade de 66,6% e 44,4%, respectivamente. A acurácia no diagnóstico de DPM/LM foi de 50% para ambos. Pode-se concluir que o Programa se diferencia pela sua natureza permanente, com utilização de infraestrutura e recursos humanos disponíveis no SUS, investimentos na capacitação do profissional da atenção primária, o monitoramento da população de risco e o suporte matricial de centro especializado de ensino e pesquisa. A viabilidade de implantação e econômica do programa no Estado de Goiás é real, possibilitando o fortalecimento da rede para a prevenção, diagnóstico e tratamento ao câncer de boca. Quanto à análise de acurácia da inspeção auxiliada por autofluorescência, conclui-se que esta tecnologia tem potencial para a detecção precoce do câncer de boca atuando como um complemento a inspeção visual convencional.
Palavras-chave: Custo e Análise de Custo; Programas de Rastreamento; Diagnóstico Precoce.
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