A descoberta da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC, tomografia volumétrica ou cone-beam) representou, sem dúvida, uma revolução na Odontologia, agregando informações importantes ao diagnóstico. Em Endodontia, vários estudos investigam o uso da TCFC com foco não somente em casos de retratamento ou de complicações endodônticas, mas também na sua precisão em identificar características anatômicas do canal radicular de cada dente.

Muito ainda precisa ser investigado, através do prisma da evidência científica, acerca da real contribuição da TCFC na avaliação da anatomia dos canais radiculares, porém diretrizes começam a se desenhar com base em vários estudos que vêm sendo publicados na literatura científica de impacto internacional.

Em um estudo publicado no periódico Journal of Endodontics (1), periódico da Academia Americana de Endodontia, onde se comparou TCFC com a radiografia periapical na identificação da configuração anatômica do canal radicular de pré-molares recém extraídos, os autores chegaram às seguintes conclusões:

  • TCFC apresentou uma alta acurácia (85%) na detecção de sistemas de canais complexos, enquanto a radiografia periapical apresentou uma baixa acurácia (55%), tendo como base o padrão-ouro (microtomografia: método de imagem com alta resolução espacial, com aplicação in vitro)
  • Houve diferença estatisticamente significante na correta identificação da morfologia dos canais radiculares entre os dois exames, tendo a TCFC um melhor desempenho comparada com a radiografia periapical

Muitos debates podem ser levantados sobre os achados neste e/ou em vários outros que destacam a importância da TCFC e o seu impacto na rotina clínica do cirurgião dentista. Como este é um exame que utiliza como fonte de energia a radiação X (ionizante), cabe ao profissional definir em cada caso a indicação (ou não) do exame de TCFC, determinando se informações adicionais tridimensionais oriundas dessa modalidade de imagem podem ser determinantes ou não na tomada de decisão clínica e, consequentemente, possibilitar a escolha do plano de tratamento mais assertivo.

A avaliação da individualidade de cada caso é prevista nas diretrizes elaboradas pelo SEDENTEXCT (2). O projeto Sedentexct nada é um projeto pioneiro colaborador (entre profissionais de pelo menos 7 instituições de diferentes nações europeias), que objetivou elaborar diretrizes para o uso seguro de TCFC com bases científicas. Além dessa orientação acerca da avaliação individual de cada caso, as diretrizes também orientam para a utilização de aparelhos com FOV reduzido e que forneçam uma alta resolução espacial. Tendo em vista que canais laterais, secundários, acessórios, bem como fraturas dentárias e trincas (fraturas incompletas) são estruturas de tamanho muito reduzido, tomógrafos que não possibilitem aquisições com alta resolução espacial, dentre outros parâmetros de qualidade de imagem em TCFC, podem não permitir a visualizações de tais estruturas. O não-diagnóstico dessas condições resulta em um diagnóstico equivocado, que impacta diretamente no sucesso/insucesso do tratamento.

 

REFERÊNCIAS

  1. Sousa TO, Haiter-neto F, Freitas DQ, Hassan B. Diagnostic Accuracy of Periapical Radiography and Cone-beam Computed Tomography in Identifying Root Canal Configuration of Human. J Endod. Elsevier Inc; 2017;43(7):1176–9.
  2. The Sedentexct Project [internet]. Manchester: The University of Manchester; 2009. Available from: www.sedentexct.eu.
  3. Vertucci FJ. Root canal anatomy of the human permanent teeth. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1984;58:589-99.

canais radiculares

Figura 1: Esquema da classificação das configurações de canais radiculares, com níveis de complexidade diferentes, proposta por Vertucci (1984).